Chegamos ao final do ano e, como quase sempre acontece, vamos virar uma página da vida, umas vezes mais feliz, outras menos.
Esta semana a primeira vacina já foi administrada, em Inglaterra. Outras se seguirão.
Nestes tempos baços conforta-me saber que em 2021 voltaremos a encontrar o caminho de volta a nós. Sem sucumbir. Sem sermos dominamos pelo medo. Sem estarmos condicionados por estatísticas exclusivamente virulentas, saturados de debates pandémicos e diatribes absurdas.
É verdade, arejaremos a alma, irradiaremos luz que nem pirilampos e voltaremos a estar entretidos na busca do significado da nossa vida, com tudo o que isso implica, guerra e paz e… (subitamente a minha consciência interrompeu-me, falou-me e, por uma vez que seja na vida, deu-me na cabeça; o diálogo que estabelecemos foi o seguinte):
«- Ó pá! Ultimamente escreves textos muito compridos - sussurrou-me a consciência.
- E chatos? – Perguntei.
- Também! Alguns são mesmo intragáveis.
- Mas é preciso dizer alguma coisa, comunicar, desenvolver raciocínios… e isso é complicado e precisa de tempo - barafustei efusivamente.
- Beleza Tózinho! Mas olha que a qualidade do conteúdo de um texto não se mede pela quantidade de palavras usadas.
- Certo, eu também conheço o significado da famosa expressão do filósofo francês Blaise Pascal: “Se eu tivesse mais tempo, teria escrito uma carta mais curta” – expliquei.
- Acaba já com isso; é Natal e os leitores não estão para aturar estas tretas.
- Mas já comecei a escrever isto, o que faço agora? – Interroguei.
- Lixo! As pessoas estão sem paciência.
- Não! – protestei veementemente, detesto mandar objetos para o lixo.
- Hummm, então toma lá 5 tostões e vai comprar imaginação em pó ao Sr. Jacinto.
- Bons tempos, mas já fechou – exclamei.
- Talvez, a imaginação está em vias de extinção. Então conta uma história engraçada e volta só para o ano.
- Boa idéia! Espera - questionei, pode ser uma parábola muito popular resgatada de antigos contos do médio oriente, pequena, mas de longo alcance?
- Pode pois! Desde que não tenha mais de 75 palavras, então chuta. Sabes, hoje em dia, a quantidade é cada vez mais um critério de qualidade, mas com uma relação inversamente proporcional: quanto menor for o texto, melhor.
- Perfeito, entendi, então cá vai – disse sufocante rematando a conversa:
“Numa viagem ao estrangeiro, Nasrudin foi confundido com um malfeitor foragido da justiça. Foi preso e condenado à morte. Era comum naquele país que o condenado tivesse o direito de satisfazer a sua última vontade. Quando lhe foi perguntado qual era a sua, Nasrudin respondeu: - Quero escolher a forma como vou morrer! O juiz disse a Nasrudin: - Muito bem, isso ser-lhe-á concedido, como é tradição. Mas de que forma escolhe morrer? Nasrudin respondeu: - De velho!”»
Assim seja para todos nós, mas depois de passar por tudo isto só lá para os 150 anos.
Este é o meu desejo. Feliz Natal e sorridente ano novo.
Vila Nova de Cerveira, 10 de dezembro de 2020.
Vítor Nelson Esteves Torres da Silva